Plantas & Pets & Prints & Patuás.

Texto: Sandro Torres

 

O título do texto traz, na vã tentativa de síntese – ou de se tornar um meme ou um tema pra podcast -, uma reflexão sobre complexidade dessa geração, claro, sob o olhar desse falacioso autor.

Daria bom para uma camiseta, para uma caneca instagramável, para uma dissertação de mestrado ou para uma simples conversa encharcada de negronis no rolê ecumênico da gravação de lives ou na matinê do samba.

O fato é que, olhando quase que equidistantemente de fora, é fácil perceber que aquela geração que aportava na fé de um dantes exótico, mas agora domesticado novo brega que surgia no horizonte das plataformas de streaming musical, dos movimentos de alocação dos lugares e empoderamento de falas, das insurgências  das opiniões sobre penteados alternativos, moletons estonados e políticos bufarinheiros, está desembocando, sem pudor ou hesitação, nas redundâncias semióticas das plantas, dos pets, prints e/ou patuás.  Para a camiseta, talvez fosse o caso de incluir o 5º P, de pandemia, mas, além de ser de extremado mau gosto, estou numas aqui de relutar a essas paradas de moda e não de me entregar sem relutância ao tema mais necessário da atualidade, que é a tal da enfermidade epidêmica amplamente disseminada.

” Ter planta, pet, print e patuá no mesmo ambiente não diz sobre seu caráter, creio eu; diz sobre seu senso poético, sobre sua humanidade”

O Pinterest que nos desminta, mas se não contem pelo menos 3 desses itens de uma lista de 4, não é hype, não é pra hoje, não é pra você que enverga entre 18 e 32 anos, com pequena uma margem de erro pra menos ou pra mais idade. Que os algoritmos virtuais me entuchem – ainda mais –  de sugestões e propagandas em forma de simulacros de uma nova e melhor vida se eu estiver cometendo sandices em comparando e aglutinando na mesma pipeta o reino vegetal, o reino animal, o reino das impressoras gigantes e ultratecnológicas e o reino da mandinguices genérico-religiosa-amuletísticas.

As observações acima praticamente não necessitam de decupagem, mas o texto ficaria curto só até aqui, logo,  sigamos:  126% das pessoas querem plantas, ainda que, muitas vezes, não saibam o que fazer com elas e qual lado fica a raiz e qual lado fica o caule; 289% das pessoas ou já têm pets – principalmente “doguíneos” e “gatíneos” – ou tiraram esse resto de vida para tietar perfis de bichos em redes sociais; 412% da população mundial se apegou a um pôster, ou a cinco pôsteres ou a todos os pôsteres que conseguiu carregar da loja; 644% dos seres humaninhos envergam alguma crendice com portabilidade, podendo, facilmente, levar daqui pra ali, no exercício  democrático e libertário da fé demais não cheira bem.

Ter planta, pet, print e patuá no mesmo ambiente não diz sobre seu caráter, creio eu; diz sobre seu senso poético, sobre sua humanidade, sobre quão delirante pode conseguir ser, sobre um nada maquiavélico sistema de escolhas que o mundo moderno nos possibilita e condiciona. Meta tudo no mesmo saco, tire uma foto abraçado ao seu gato, deitado em sua rede, enquanto miniaturas de Jesus e um Buda gordo decoram sua prateleira ondem jazem livros de constelação familiar, de arquitetura modernista e da filmografia dos irmãos Marx, dividindo espaço com uma esplendorosa samambaia renda francesa que compete em atenção com o divertido print de legos coloridos!

O norte da questão é também um sudoeste de possibilidades, se atentarmos para o silêncio ensurdecedor dos paradigmas se quebrando.

Na verdade, antecipo um alarido ranheta, vindo de supostos intolerantes assintomáticos. Mas isso não me demove da ideia de continuar observando o caminhão de informações e ruídos visuais que a humanidade não vai parar de produzir. Sugiro um cálice de um bom moscatel pra acompanhar o entrevero estético normativo do desenrolar do amadurecimento das convicções; escolha um bem docinho.

Sandro Tôrres

Sandro Torres

 

Diletante e confuso, porém criativo.

Graduado em Direito e Artes Visuais, mestrado em História (UFG). Carreira plural, com incursões pela literatura, cinema, publicidade, TV, artes visuais; é autor de dois livros (além das antologias): “Essa Tal Arte Contemporânea” (ensaio, 2012) e “Digo que Sim” (poesias, 2016); ensaísta da Revista Zelo desde 2010.

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