OS IMPACTOS DAS REDES SOCAIS NO MERCADO DE ARTES

Como se comporta quem coleciona arte nestes tempos de redes socais?

Por Fernando Matos

Quando falamos em tecnologia o que se coloca em jogo não são as novas funcionalidades ou tendências dessa área. Apesar de acrescentarem facilidades ao dia-a-dia – com a ressalva de que é no de quem tem poder de acesso a elas-, o que de fato interessa é o poder de gerar mudanças sociais que esses avanços tecnológicos carregam, principalmente no que diz respeito aos hábitos de consumo, inclusive os culturais.

E a arte não fica fora dessa influência. Isso é o que mostra o Relatório Larry’s List The art collector instagram attetion (2022), que discute o quanto o uso da rede social modificou e influenciou a forma de consumo de arte em todo o mundo. Atualmente, segundo a publicação: “As coleções e as redes sociais são inseparáveis no ecossistema de arte atual.”.

Para o professor Bruno Bomfim, as redes propiciam aos colecionadores conhecerem novos artistas: “A internet democratizou a publicização da produção e o acesso ao trabalho de artistas independentes e ainda não consagrados pela crítica. Isso é importante principalmente para aqueles que estão fora dos grandes centros, cuja a inserção nos espaços consagrados é mais dificil”, afirma.

CONHECENDO ARTISTAS

            Mas o que leva alguém alguém a seguir um artista em uma rede social? Não há respostas simples para essa questão. O arquiteto Fabrício Fiaccadori, diz que a curiosidade é o que o move nesse espaço. “Eu busco perceber coisas que me atraem o olhar. Não há metódo. É algo mais livre. Mas ao mesmo tempo, os artistas se conectam às minhas referências e gostos artísticos”, afirma.

            Ele observa ainda que essa busca se faz nos perfis de artistas que ele já segue. “Muitos artistas possuem uma rede de outros com quem possuem afinidades, o que faz com que se repostem e promovam uns aos outros. Logo, os seus feeds também são espaços para acessos e descobertas”, pontua.

            A mesma opinião é compartilhada pelo advogado José Seronni, para quem, principalmente o Instagram, se tornou uma das principais ferramentas para novas aquisições para sua coleção. “Tenho percebido que nos últimos tempos aumentou muito o número de artistas e coletivos que utilizam as redes como forma de alcançar mais diretamente os seus públicos e essa relação de troca é muito rica, pois não é apenas de aproximação e serve também de ferramenta para entender um pouco mais sobre os processos critivos”, analisa. Segundo ele, as interações nos perfis de arte o ajudam a  basilar suas escolhas, uma vez que a partir dos comentários é possível absorver feedbacks sobre as obras.

            Por outro lado, mesmo com o acesso facilitado pelas redes, a troca de informações com pessoas próximas não desapereceu. É o que afirma o dentista e agitador Jonas Henrique. “Eu busco me informar por outras formas de divulgação, além de militãncia de arte e pessoas com as quais convivo. Mas sempre prezando por aqueles que me causam emoção”, diz.

PROCESSOS COMPLEMENTARES

            Que as redes sociais ampliam o alcance dos artistas com seus públicos é fato, mas isso não quer dizer que inviabiliza outros espaços. Para a jornalista Bia Tahan, artistas abrirem perfis na internet não está em oposição ao trabalho desenvolvido por galerias, exposições e feiras, por exemplo. Para ela são estratégias complementares. “Eu amo conhecer novos artistas! E as redes sociais são excelentes instrumentos para isso. Normalmente, meu primeiro passo é buscar perfis focados em arte, como galeristas e curadores, por exemplo”, explica.

            A partir desse primeiro contato ela busca os artistas virtualmente para aquisição de suas obras. “As duas últimas foram assim. Conheci os artistas em exposições que visitei e posteriormente entrei em contato pelas redes socais”, diz. Questionada se as redes facilitam conhecer pessoas em ínicio de carreira ela faz uma ponderação. “Acredito que uma linguagem não elimina a outra. Elas são complementares. As galerias, mostras e feiras são fundamentais pois fazem curadoria de novos talentos, que posteriormente podemos acompanhar pelas redes”.

            Perspectiva semelhante a do professor Anderson Ferreira. Segundo ele, muitos conteúdos chegam em seu perfil via algoritmo, que vai filtrá-los de acordo com as suas interações anteriores. “Muito conteúdo que chega a mim já vem filtrado pela plataforma de acordo com meus interesses e de perfis que eu já sigo. Por outro lado, sempre estou trocando ideia com pessoas próximas que gostam de arte e que sabem do que eu gosto. É um processo que converge vários dialógos sobre arte”,A reflete.

            Mas nem todo mundo se deixa influenciar pelas redes, como é o caso da ex-vereadora e fisioterapeuta, Cristina Lopes, que afirma não buscar artistas em redes sociais. “Eu busco conhecer pessoalmente ou por intermédio de pessoas em comum. Logo, não sofro as influências das redes sociais”, diz.

            A verdade é que, como aponta o Larry’s List The art collector instagram attetion, as ferramentas visuais podem dar pistas sobre como quem coleciona caminha pelas redes, artistas que causam buzz e quais perfis estão sendo procurados. Entretanto, ainda é a emoção do encontro com a obra que define essa relação. As redes estão aí e não há como fugir, mas assim como outros possíveis fins decretados devido ao advento da tecnologia, o do ecossistema da arte também não será concretizado.

Por: Fernando Matos
Um jornalista, mestre em mídia e cultura e maranhense radicado há 11 anos em Goiás. Nascido na década de 1980 e criado assistindo televisão na década de 1990, o que sem dúvidas me transformou em um misto de pornógrafo amador, comentador de política e apreciador de fotografias em branco e preto.

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