OS IMPACTOS DAS REDES SOCAIS NO MERCADO DE ARTES – PARTE 2

Anteriormente discutimos esse cenário a partir do olhar de quem coleciona arte. Mas e os outros agentes do mercado de arte como será que analisam a questão?

Por Fernando Matos

Se para quem coleciona artes a internet, mais especificamente as redes sociais, representa uma possibilidade de democratizar a produção artística, principalmente de artistas que se encontram foram dos grandes centros, para as outras pessoas deste ecossistema ela também representa uma importante ferramenta. É o que aponta o Relatório Larry’s List The art collector instagram attetion (2022), que aponta que as redes, em especial o Instagram, podem dar pistas sobre o comportamento de quem coleciona de forma muito mais ágil, gerando dados importantes para as tomadas de decisões do setor.

            Mas essa não é uma discussão recente, como bem aponta Wanessa Cruz, galerista e organizadora da Feira de Arte Goiás (FARGO). “Em 2013 promovemos o Seminário Bastidores da Criação em que essa questão já estava posta. Naquela época algumas pessoas já levantavam essa questão. Inclusive, em evento posterior, um pesquisador chegou a decretar o fim de feiras de artes. E olha só o poder das feiras de arte na atualidade!”, diz.

            Para ela, as redes são uma realidade que não devem ser ignoradas, por outros lado, em se tratando do mercado de artes, a chancela se dá por outras vias. “A internet pode possibilitar vendas mais rápidas, mas a legitimidade, essa vem dos outros agentes do mercado, como galeristas e curadores, por exemplo”, observa.

            Essa posição é corroborada pelo artista Carlos Monaretta, para quem as redes não suplantam os espaços institucionalizados. “Eu não acho que o artista com a sua influência no Instagram irá se sobrepor ao que é legitimado além das redes sociais. Acredito que são áreas distintas de legitimação e mesmo assim interligadas, ainda que eu entenda que o digital não seja maior do que a institucional”, analisa.

APROXIMAÇÃO COM OS PÚBLICOS

            Carlos aponta que as redes socias abrem caminhos para o diálogo com diversos públicos de interesse. “Eu busco atingir quem se interessa por arte contemporânea e tenho como objetivo estar em dialogo com outros artistas e agentes da área: profissionais de curadoria, quem coleciona e de produção cultural, por exemplo”, afirma. Para ele, as ferramentas virtuais tornam a aproximação com essas pessoas mais ágil e recorrente, mas isso não significa uma ruptura, uma vez que é a chancela do ecossistema que permite o seu crescimento e influência nas redes.

            Para o Emilliano Freitas, a internet cumpre um importante papel de divulgação, não necessariamente de vendas. “As redes sociais possibilitaram um alcance maior do meu trabalho, visto que várias pessoas tiveram acesso a ele graças ao Instagram. Mostrar o processo, divulgar as exposições e conversar com o público é uma forma de aproximar o trabalho do público. Mas como o foco da minha produção não tem um perfil muito ligado as redes, não vejo, contudo, que o consumo das minhas obras dependa exatamente delas”, afirma.

            Ele entende que artistas independentes talvez encontrem nas redes um terreno mais profícuo para negociarem suas produções, sem que, contudo, isso redunde no sistema como um todo. “Para o artista independente as redes sociais podem ser importantes. Mas pro sistema da arte em si, ela é só mais uma ferramenta utilizada para comunicação”, atesta.

            O que as falas anteriores trazem à tona é que, sem dúvidas, estar presente nas redes torna o trabalho dos artistas mais visível. Entretanto, as formas de se mostrar o trabalho, e como isso fazer com que o público entenda e conheça sobre a produção das obras é onde reside o principal ganho nesse processo segundo a artista Nancy (acrescentar sobrenome), para quem a visibilidade do trabalho nas redes sociais é importante, mas não a qualquer custo.

“Eu acho que essa participação de redes é supervalorizada. Não considero que a carreira de uma maneira mais consistente necessite de tanta apresentação na mídia. Eu pessoalmente gosto de conhecer muitos artistas a partir do Instagram, mas eu não quero ser conhecida dessa maneira, talvez seja um pouco anacrônico pensar assim, mas não me sinto à vontade de mostrar tudo que eu faço, realmente não interessa. Já a veiculação de vídeos apresentando artista, o atelier e a obra no Youtube, por exemplo, isso é bacana e acho bastante válido”, pondera.

             O que as falas indicam é que as redes possuem um potencial de disseminação dos trabalhos de forma abrangente, mas per si não garante o reconhecimento de um artista dentro da cena das artes visuais.

            Wanessa traz uma reflexão salutar para a conversa. “Tem muita gente com públicos consolidados e vendendo bem na internet, mas qual é a projeção histórica e a importância dessas pessoas no campo das artes? Isso é questionado. É importante ter uma rede social ativa? Sem dúvidas! Mas se o artista passa a fazer dela sua principal fonte de divulgação e vendas, qual galeria ou instituição ele irá ocupar? Se você é seu próprio mercado porque outros setores irão priorizar você? E por mais que você tenha toda essa estrutura virtual organizada, mas não esteja em diálogo com os outros setores do cenário, mesmo sendo um sucesso comercial dificilmente irá construir uma carreira sólida no cenário das artes”.

            Essas visões parecem apontar para o fato de que as redes sociais, apesar de sedutoras, não podem ser entendidas como um fim em si mesmas quando se trata da construção de uma carreira no mundo das artes. E apesar de serem importantes ferramentas para o circuito, como aponta o Relatório Larry’s List The art collector instagram attetion, e também de divulgação dos artistas, elas são apenas uma das muitas pontas de uma engrenagem muito maior, na qual, ao que parece, o alcance do algoritmo não tem o mesmo peso que o trabalho humano que faz a roda girar.

Por: Fernando Matos
Um jornalista, mestre em mídia e cultura e maranhense radicado há 11 anos em Goiás. Nascido na década de 1980 e criado assistindo televisão na década de 1990, o que sem dúvidas me transformou em um misto de pornógrafo amador, comentador de política e apreciador de fotografias em branco e preto.

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