FARGO homenageia ANA MARIA PACHECO

Ana Maria Pacheco in Etching Studio. Repro courtesy of Pratt Contemporary

(imagem cedida por Pratt Contemporary Art)

 

Texto: Sandro Torres

 

Em 2021, a FARGO – Feira de Arte Goiás, decidiu prestar uma singela homenagem a uma grande artista, pela sólida e destacada carreira, com representatividade no Brasil e exterior: Ana Maria Pacheco, escultora, desenhista, pintora e gravadora, artista goiana. Após sua participação na 11ª Bienal de São Paulo (1971), se mudou para a Inglaterra (1973), onde está radicada desde então.

 

Em contato com Ana Maria Pacheco, a equipe FARGO anunciou a homenagem, recebida com alegria e entusiasmo pela artista, que, em mais de 50 anos de dedicação às artes – após todas exposições, menções, premiações, homenagens, mostras comemorativas, condecorações, graduações e outras honrarias – mantém o jeito humilde, polido e gentil de falar e, principalmente, preserva os laços estreitos com suas origens em Goiás.

 

Sobre seu trabalho e seus feitos, multiplicam-se as adjetivações: impactante, soturno, dramático, instigante, profundo.  Todas essas sentenças podem resumir o trabalho de Ana Maria Pacheco. Mas não o definem por completo.

 

Críticos e especialistas em arte já se debruçaram sobre a dramaticidade contida no trabalho da artista, cujo conjunto arquetípico de signos está para além da representação elemental da abstração dos sentimentos. Ademais, remete a um lugar único da fruição: um lugar quase inevitável de aturdimento.  Tem-se a sensação da totalidade dos sentidos emanando de sua obra: um ruído gutural, um cheiro acre com notas almiscaradas; ao tato, a aspereza de uma pedra-pomes envolta em veludo, um sabor complexo entre amêndoas e a carne mais vermelha; uma visão epifanesca de algo que nunca existiu, mas que povoa o subconsciente de cada um de uma forma quase palpável. É o teatro na mais sofisticada interpretação, com ingredientes fetichizantes e histriônicos das comédias bufas e dos dramas operísticos. O que dizer de uma obra que quase não há com o que se comparar, mas ao mesmo tempo eclode em matéria, elementos plásticos, mitos e toda sorte de humores e afetos? Quantas exclamações caberiam numa resenha sobre o conjunto escultórico de Ana Maria Pacheco? Quantos esgares emotivos em reação às suas gravuras? Quantas narrativas há para se decifrar em seus desenhos?

 

Estar na Europa – particularmente no Reino Unido, um mercado demasiado exigente – foi fundamental para a consolidação da carreira, iniciada ainda nos anos 1960; atribui-se grande crédito dessa performance aos seus galeristas da tradicionalíssima Pratt Contemporary Art, há quase quatro décadas. Mas claro que uma produção dessa grandeza teria lugar onde quer que fosse. Além das obras em museus e coleções particulares muito bem guardadas, sobrou-nos, aos goianos, a admiração à distância, a amizade e momentos dos encontros esporádicos de suas visitas à terra natal.

 

Ana Maria Pacheco é artista de ofício, de atelier, de pesquisa, de ferramental. Dilapida as ideias em fases de produção até o esgotamento que ganha formas e contornos. Se lança na criação de forma arrebatada como quem quer ganhar o mundo. E ganha. Nesse momento da vida, mantem a rotina da produção laboriosa em seu ateliê, preparando uma nova exposição para tão logo. Enquanto isso, daqui, já estamos de pé, só aguardando o descortinamento, para aplaudirmos em cena aberta.

 

Congrats and thanks, Ms. Pacheco!

 

Sandro Tôrres – Artista Visual, Me. em História

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